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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Crise de Consciência

 Os shoopings estão cheios e mais cheios a cada dia que passa, o futebol ocupa metade do tempo que resta ao trabalhador fora do trabalho (e até dentro dele), a religião faz com que todas as esperanças de vida sejam projetadas a luz de uma divindade, a televisão com seus programas atrativos e suas mentiras e os bares, casas de show e discotecas terminam, assim, de preencher o resto de de tempo que um trabalhador tem sem ser explorado, afinal, ninguém é de ferro. Quando mais, ele pratica um esporte ou alguma arte (isso se tiver dinhero) mas, mesmo asim, faria parte da mesma lógica que o resto das atividades.
 Pronto, está fechado o ciclo de vida de um trabalhador normal. É isso mesmo, ele está predestinado à fazer somente essas coisas na vida. Quando você observar um recém nascido e alguém perguntar o que ele vai fazer da vida, você ja deverá julgar esta uma pergunta retórica: ele vai crescer, ser explorado por uma classe dominante e, com a miséria que recebe pelo seu trabalho, vai gastar indo ao shooping, comprando utensílios futebolísticos, indo à estádios ou apostando, contribuindo com algum "guru" espiritual com esperanças de que a vida melhore e visitando um bar ou uma balada que lhe apresente a proposta de se esquecer dos problemas da vida. Mas esta proposta é o que move todos os outros itens.

 O Shooping com suas redes de compra, cinemas, fast-foods e salas de games não oferecem nada além do que a saída, o escape para que o indvíduo possa se alegrar um pouco, assim como as atrações televisivas cheias de risos e todos os outros itens.
 A vida não é boa, é ruin e é até mesmo péssima. Por isso é necessário arranjar-se destes subterfúgios para que o sofrimento seja amenizado. Isso demanda questões complicadas referentes, por exemplo, ao uso de drogas e à beleza das artes que espero tratar em outro texto.

 O uso apenas deste argumento não basta para que um trabalhador que leva uma vida dura continue à "dar corda" neste mecanismo. É preciso também tornar isto questão de "Status". E é à partir daqui que o consumo passa a tomar um nível superior e, até, espiritual. O cientista da religião Jung Mo Sung diz o seguinte em um de seus livros:
 "No passado, não tão distante, quando as pessoas se sentiam "impuras" ou, na linguagem mais contemporânea, deprimidas, iam às igrejas ou outros lugares sagrados para rezar ou participar de algum rito. Hoje em dia as pessoas preferem ir a um Shopping Center fazer compras ou ver vitrines. Não é à toa que a arquitetura dos shoppings tem muitos elementos que nos lembram templos e catedrais. Esse pequeno exemplo nos mostra que há um tipo de experiência espiritual que acontece na vida cotidiana das pessoas através do mundo da economia".

 Poderíamos citar também o psicanalista Erich Fromm com o famoso Ter ou Ser de 1978 onde no capitulo 4 do livro deixa claro que a sociedade passa à manter uma relação com a mercadoria onde é buscado nas marcas de luxo uma dimensão espiritual que complementa a vida religiosa comum.

 Perguntas como "se é de marca" ou "se é original" (porque não basta ser só de marca) são exemplos de como valores são implantados nas mentes sem obvia percepção. À algum tempo atrás presenciei um amigo indo à um bar, sentando em uma mesa (sozinho) e pedindo uma garrafa de Red Label que o bar oferecia à custo de R$ 280,00. Só um detalhe: ele não gosta de beber e ainda me confessou que comprou somente para atrair atenções no lugar em que estava. O que dizer disto senão que é uma clara manifestação do que eu disse pouco acima. Esses são alguns motivos pelos quais o indivíduo está em todos esses lugares. Mas o que podemos notar, é que, em nenhum momento ele está questionando a própria ordem dos fatos e de como as coisas acontecem. Por que será?
 O mais interessante é que o mínimo de recursos que restam à um trabalhador são usados para abastecer os próprios causadores de todos os motivos para que sua vida seja tão difícil quanto é, seja enriquecendo, desde um empresário isento de impostos, passando por um que seja bandido e sonegador até aquelas elites mais oligárquicas e podres que gozam de tudo que as outras gozam e mais um pouco, sem ao menos ele se preocupar para onde está indo seu dinheiro com o inocente pensamento de que está empregando alguém.

A miséria que sai de um pra todos, é devolvida logo em seguida para que possa continuar recebendo, mesmo que em menor parte, posteriormente. É o ping-poing da vida onde o ganhador é sempre o mesmo mas, obviamente, até quando o outro lado enxerga a verdadeira saída (possibilidade que não pode ser descartada) e começa, à partir dela, interferir neste curso da história e as coisas passam a não serem mais predestinadas mas sim, passam a tomar novos contornos e novas formas, talvez até, nunca tomadas na história.







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